domingo, 22 de março de 2009

89 - INT. CASA LUXUOSA. NOITE

Tudo-ou-Nada segue pelo corredor da mansão, com a sua lanterna "flou" e um lenço vermelho cobre seu rosto.












Uma mulher bonita aparece e, ao invés de fugir, o ataca, conseguindo arrancar o lenço de seu rosto.












O bandido atira na mulher...














... que cai sangrando.

André Guerreio Lopes como Tudo-ou-nada




quarta-feira, 18 de março de 2009

domingo, 15 de março de 2009

Continuação de "O Bandido da Luz Vermelha" é projeto de família

DANIELLE NORONHA
Colaboração para o UOL

A continuação de um dos mais importantes filmes do cinema marginal, "O Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla (1946-2004), é, em primeiro lugar, um projeto em família.

Com o roteiro deixado por Sganzerla, quem assume a direção é Helena Ignez, viúva do diretor, ao lado de Ícaro Martins. No principal papel feminino, o longa conta com a participação filha da diretora com o cineasta, Djin Sganzerla, que no filme contracena com seu marido, o ator André Guerreiro Lopes.

Thiago Fogolin/UOL

Jane (Djin Sganzerla) é namorada de Tudo-Ou-Nada (André Guerreiro Lopes) em 'Luz nas Trevas'

A personagem de Djin se assemelha à da mãe no primeiro filme, de 1968. Ambas se chamam Jane. Helena interpretou a namorada de Luz Vermelha, e, nesta sequência, sua filha é a companheira de Tudo-Ou-Nada (Lopes), filho do bandido com a personagem de Sandra Corveloni, vencedora da Palma de Ouro de melhor atriz em Cannes.

"O que se leva dessa vida, é a vida que se leva". É com essa fala da Jane que a atriz começa a nos contar um pouco sobre a sua personagem, que não têm apenas o nome em comum, garante a atriz. "As duas são mulheres fortes. São independentes e não esperam nada do homem, além da satisfação, da alegria do momento presente", diz.

Ao mesmo tempo são Janes distintas. Para Djin, a principal diferença entre elas é que a sua personagem gosta do Tudo-Ou-Nada. A Jane do Bandido, porém, tem outra relação: "Ela é uma pistoleira tanto quanto ele, ela é quem o dedura e se vinga, a minha Jane já não entraria no mundo do crime ao ponto de se incriminar. Por mais que ela seja um pouco selvagem, um pouco louca, ao mesmo tempo ela pensa que ele poderia mudar de vida", conta.

O preparo para viver a Jane de "Luz nas Trevas - A Revolta de Luz Vermelha" foi feito de diversas formas. Djin buscou inspiração em filmes, no trabalho da mãe e, principalmente, em uma fonte interna. "Eu empresto para a personagem uma certa liderança, a determinação e a vontade de viver, mas ao mesmo tempo sou diferente de tudo isso. Eu acho que esse é o grande prazer de viver uma personagem que é e não é como eu sou", afirma a atriz. "A Jane é uma mulher que vive o momento presente. Ela representa o ápice do frescor, da alegria e do amor", completa.

Para a atriz, participar desse projeto é uma satisfação enorme e ela citar um importante ponto forte do filme: o roteiro. "É muito original, não convencional na forma de pensar e fazer cinema. É poético e ao mesmo tempo anárquico, um roteiro dos tempos atuais, é algo extraordinário", diz.

André Guerreiro Lopes, que interpreta o Tudo-Ou-Nada, conta que a parceria deles é de muita criatividade e estímulo mútuo: "Quando estamos juntos em um trabalho, a sensibilidade que ela tem, somada a visão de composição que eu tenho, é um dos traços que funcionam muito bem".

Djin Sganzerla já foi dirigida por seu pai em "O Signo do Caos" e participou de filmes como "Meu Mundo em Perigo", de José Eduardo Belmonte, do premiado "Meu Nome é Dindi", de Bruno Safadi, filme que pelo qual foi premiada como melhor atriz no Festival de Cinema Luso-brasileiro, e "Falsa Loura", do diretor Carlos Reichenbach.

Ney Matogrosso
"Luz Nas Trevas" tem diversas ligações com o primeiro filme, como por exemplo o uso de diversas narrações com diferentes pontos de vista. Mas, segundo Ícaro Martins, o próprio Rogério já deixou tudo claro no roteiro: "Não é a cópia do que foi feito, é uma evolução".

O Bandido da Luz Vermelha volta nesta sequência como presidiário, e é o cantor Ney Matogrosso que dá vida ao personagem que já foi interpretado por Paulo Villaça (1946-1992) no primeiro filme. "Quando Helena me convidou e disse do meu olhar, eu já sabia o que eles queriam", conta Matogrosso. "Eu estou à disposição para fazer o que eles quiserem", completa.

Além de Matogrosso, o elenco conta com mais de 80 atores, além da participação de diversos figurantes da comunidade de Heliópolis. Bruna Lombardi, Maria Luísa Mendonça, Sérgio Mamberti e Simone Spoladore são alguns dos nomes que estão presentes no filme.

As filmagens de "Luz Nas Trevas: A Revolta de Luz Vermelha" acontecem em São Paulo e a previsão de estréia é para o final deste ano.

Álbum do UOL do filme:
http://cinema.uol.com.br/album/luz-nas-trevas-revolta-luz-vermelha-set_album.jhtm

quinta-feira, 12 de março de 2009

"


...quis mostrar também o lado neurótico, incômodo, difícil, da mulher moderna. Pela primeira vez em nosso cinema, uma mulher canta, berra, bate, dança, deda, faz o diabo. Neste filme ela é Marlene Dietrich co-dirigida por Mack Sennet e José Mojica Marins, isto é, por mim."


(Rogério Sganzerla, sobre Helena Ignez em A Mulher de Todos, seu filme de 1969)




Em 2009, na direção de Luz Nas Trevas, Helena Ignez filma diversas mulheres que cantam, berram, batem, dançam, dedam, fazem o diabo.


E, ela mesma, está no elenco, no papel de Madame Zero.

domingo, 8 de março de 2009

Ney Matogrosso empresta exibicionismo dos palcos a Bandido da Luz Vermelha

por Silvia Ribeiro Do G1, em São Paulo (07 de Março de 2009)

Quarenta anos depois, personagem ressurge no cinema.
G1 acompanhou bastidores da continuação do filme de 1968.

Apesar de ter morrido eletrocutado, envolto em fios elétricos, ao final de “O Bandido da Luz Vermelha”, o personagem-título do clássico do cineasta Rogério Sganzerla, ressurge no cinema 40 anos depois. Desta vez, na pele do cantor Ney Matogrosso que empresta a Luz Vermelha um pouco do exibicionismo do “Ney dos palcos”.

As filmagens de “Luz nas Trevas, a Volta do Bandido da Luz Vermelha”, continuação do filme de 1968 que revolucionou a linguagem do cinema, começaram na se
mana passada em um presído desativado na Zona Leste de São Paulo. Na quinta-feira (5), o G1 acompanhou os bastidores da gravação e conversou com Ney Matogrosso e com os diretores Helena Ignez e Ícaro Martins (veja o vídeo acima).

O personagem Luz Vermelha foi inspirado no bandido que roubava mansões munido com uma lanterna, na São Paulo dos anos 60, mas a história de Sganzerla é uma ficção. No novo filme, cujo roteiro também é do cineasta, morto em 2004, o bandido está preso e conhece o filho, fruto de uma aventura com uma mulher que o visitou na cadeia. Luz Vermelha rejeita o jovem, que resolve seguir a “profissão” do pai.

‘Terceiro imundo’

Helena Ignez, viúva de Sganzerla, diz que, ao escolher Ney Matogrosso, esperava obter a atitude de “um símbolo que quebra tabus, que alarga o comportamento mental”. E a expectativa foi correspondida. “Às vezes eu fico na dúvida: ele é um cantor ou é um ator que finge que é cantor”, aplaude Ícaro Martins.

Ney Matogrosso em cena do filme como Bandido da Luz Vermelha (Foto: Gabriel Chiarastelli/Divulgação)

Esta não é a estreia de Ney na telona. O cantor, que já atuou em um longa-metragem e em dois curtas, admite que aceitou o convite “meio assustado”, mas topou o desafio e até dá sugestões no texto e na caracterização do personagem. “Eu ofereci para ela (Helena Ignez): que tal se o Luz Vermelha tivesse um olhar parado? Achei que poderia ser interessante uma pessoa que olha de olho aberto, que não pisca.”

A pedido dos diretores, ele também empresta a Luz Vermelha o exibicionismo do personagem que encarna nos palcos. “O personagem faz ginástica. Ele se olha no espelho muito. É nisso que eu acho que a gente está colocando aquele meu lado do palco, que é uma coisa de eu estar me exibindo.” Por outro lado, os gestos largos do cantor nos shows foram substituídos por uma atuação minimalista. “Aqui, o mínimo é muito. É tudo contido.”

Ney Matogrosso, que encerra em março, em São Paulo, a turnê “Inclassificáveis” - uma referência à sua versatilidade como intérprete -, fala que chega a se identificar com o também inclassificável Luz Vermelha - personagem a um só tempo cruel, engraçado e debochado. “Ele faz crítica social. Ele se diz um Robin Hood dos pobres. O ponto de vista dele é de defesa do povo brasileiro e eu concordo com isso. (...) Ele se refere muito ao terceiro mundo, ao terceiro imundo, ele fala.”

Cinema pop

De acordo com a diretora Helena Ignez, viúva de Sganzerla, o filme em produção adotará linguagem pop e vai dialogar com o do anos 60, por meio do uso de flashbacks. “É uma linguagem criativa. É um filme de invenção. É claro que é um filme para frente, e um filme de caos também”, define Ignez, que também atuou no filme de 68.

Personagem ressurge 40 anos depois em uma cadeia (Foto: Gabriel Chiarastelli/Divulgação)

As filmagens vão se estender pelo mês de março em outras locações da capital paulista, assim como o primeiro filme, que teve São Paulo como pano de fundo. A previsão é que “Luz nas Trevas, a Volta do Bandido da Luz Vermelha” chegue aos cinemas no final deste ano. O elenco também conta nomes como Maria Luísa Mendonça, Sérgio Mamberti, Simone Spoladore, Sandra Corveloni, Bruna Lombardi e Arrigo Barnabé.

Com Ney Matogrosso, sequência mostra bandido da Luz Vermelha na prisão Publicidade

SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo (8 de Março de 2009)

"Com raiva, o tesão sempre aumenta." Esse é um dos aforismos do Bandido da Luz Vermelha, grafitado nas paredes da prisão onde ele desfruta de tempo e espaço para exercitar ambos, a raiva e o tesão, segundo roteiro escrito por Rogério Sganzerla (1946-2004), que está sendo filmado em São Paulo desde domingo passado.

É Ney Matogrosso, 67, quem agora vai viver João Acácio Pereira da Costa (1943-1998), o bandido no qual o cineasta se inspirou para filmar seu "western do Terceiro Mundo", hoje um clássico. O cantor sucede Paulo Villaça (1946-92), o protagonista do primeiro filme.

Desta vez, trata-se de "uma comédia presidiária", diz a atriz Helena Ignez, viúva de Sganzerla, que convidou o cineasta Ícaro Martins para dividir com ela a direção de "Luz nas Trevas - A Revolta de Luz Vermelha", o título da sequência.

Sganzerla deitou em 3.000 páginas --depois condensadas num roteiro de 86-- seu humor corrosivo e sua crítica ao sistema prisional brasileiro. "Ninguém se penitencia numa penitenciária"; "o crime só não compensa para os pobres", diz o bandido, além de retomar a associação entre crime e política, expressa no primeiro filme.

(Foto: Eduardo Knapp/Folha Imagem. Set da sequência de "O Bandido da Luz Vermelha", com Ney Matogrosso à direita)

Cinema escrito

Para cada cena da sequência de "Luz Vermelha", Sganzerla escreveu diversas opções. No período em que encontrou dificuldade para viabilizar financeiramente seus filmes, o diretor "passou a fazer cinema com a máquina de escrever", como diz a atriz Djin Sganzerla, filha do cineasta com Helena Ignez.

Em "Luz nas Trevas - A Revolta de Luz Vermelha", Djin interpreta Jane, papel homônimo e equivalente ao de Helena Ignez no primeiro longa. Aqui, Jane é a namorada de Tudo-ou-Nada (André Guerreiro Lopes), filho de Luz Vermelha e seu sucessor na bandidagem.

Tudo-ou-Nada é fruto da relação do bandido com Olga (Sandra Corveloni), uma entre tantas mulheres que se dispõem a ir até a prisão realizar as fantasias sexuais dele.

Nos anos de encarceramento, Luz Vermelha decide ser "bom em tudo". Exercita o corpo com aparelhos de ginástica improvisados e cultiva o pensamento, lendo grandes filósofos.

Quando se dá conta de que a confissão de crimes aumenta seu status na cadeia e lhe garante regalias, passa a assumir mesmo os que não cometeu.

"O personagem tem um lado intelectual que eu não tenho. Gosta de ler Kant e Nietzsche. Só li Nietzsche uma vez e achei chato", diz Matogrosso.

(Foto: Eduardo Knapp/Folha Imagem. Ney Matogrosso durante as filmagens)

As opiniões do bandido, porém, Matogrosso compartilha com entusiasmo. "Sou contestador. Falo com verdade e prazer as coisas que ele diz, como 'os espertalhões do Brasil não vão para a cadeia'", afirma.

Com apenas algumas pontas em longas e dois curtas-metragens no currículo de ator, Matogrosso tem experimentado "prazer e adrenalina" no set de filmagens de "Luz nas Trevas".

No palco, diz ele, os sentimentos não são diferentes, mas sim a noção de responsabilidade. "Lá, sou um personagem de mim mesmo e eu é que toco o barco. Aqui, não. Estou a serviço dele [o bandido]."

Nu contestador

Disposto a levar adiante a carreira de ator, Matogrosso diz que procurou se colocar "em branco" para que os diretores pudessem "esculpir" nele a performance que desejassem.

Isso não quer dizer que o ator acate sem argumentar as ideias que os diretores lhe apresentam. Quando lhe pediram para fazer uma cena nu, ele respondeu: "Posso até fazer, mas eu ficava nu quando não podia". Matogrosso avalia que expor a nudez deixou de ser um gesto contestador "hoje em dia, quando tudo é consumo imediato e há essa exposição frenética das pessoas".

Helena Ignez acredita que, a despeito de certa banalização atual da nudez, "quando, numa prisão, um homem nu, com uma vela na mão, lê Kant em espanhol, isso é político e contestador". Matogrosso filmou a cena.

Os produtores preveem lançar ainda este ano o filme, cujo orçamento é de R$ 2,8 milhões.

sábado, 7 de março de 2009

Última entrevista

Rogério Sganzerla: (...)Luz nas Trevas... esse nome é explícito demais - as trevas do nosso tempo, as trevas da cultura brasileira, as trevas paulistas. Acho que está todo mundo por fora, as pessoas estão por fora, não estão entendendo nada. Não sabem o que estão fazendo. Não quero ser profeta em meio ao caos. Quero que os outros também entendam isso. Está tão na cara! Temos bons cineastas, eu vejo aí bons filmes, algumas surpresas, mas é só diluição.

(...)

No novo projeto, Luz nas Trevas - revolta de Luz Vermelha, qual a gênese que você faz desse personagem? É o mesmo bandido?
Rogério Sganzerla: Em primeiro lugar, denominamos Luz, e não Bandido, o poderoso experimento de linguagem urbana amortizado no lançamento em São Paulo, premiado nos festivais nacionais e triturado aqui e lá fora, por todo tipo de admiradores - confessos e inconfessáveis, amigos e inimigos da continuidade da luminosidade. Eu acredito na continuidade da luminosidade. No Bandido não houve isso. Vai haver no novo projeto. Vinte anos depois, esse filme ainda é um mito para o imaginário urbano. O novo Luz não pode ser uma diminuição.

--

Última entrevista concedida pelo idealizador e roteirista de Luz nas Trevas, a Alessandra Bastos em 2003, poucos meses antes de seu falecimento. Republicada recentemente no volume ROGÉRIO SGANZERLA da série ENCONTROS da Azougue Editorial.

domingo, 1 de março de 2009

Ensaio Ney Matogrosso e Ariclenes Barroso



Com Ney Matogrosso, Ariclenes Barroso, Helena Ignez, André Guerreiro Lopes e Guilherme Marback.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ney Matogrosso fará o Bandido da Luz Vermelha no cinema

por Silvana Arantes (Folha de S.Paulo, 22/11/2008)

O cantor Ney Matogrosso assumirá o papel do Bandido da Luz Vermelha no longa que dará seqüência ao título lançado em 1968 pelo cineasta Rogério Sganzerla e que se tornou um clássico do cinema brasileiro.
"Gosto de desafios. Acho a vida interessante com desafios. Nesse, tem o que me assusta e o que me atrai, que é fazer a continuação disso, principalmente por ser um roteiro de Sganzerla", disse Ney à Folha, após acompanhar, no 41º Festival de Brasília, a exibição do curta "Depois de Tudo", de Rafael Saar, em que atua.
Sganzerla (1946-2004) dedicou-se ao roteiro de "Luz nas Trevas - Revolta de Luz Vermelha" até os dias imediatamente anteriores à sua morte, quando estava internado no Hospital do Câncer, em SP.
Concluído o trabalho, entregou-o à sua mulher, a atriz e diretora Helena Ignez ("Canção de Baal"). "Agora é teu", disse. Aos ouvidos de Helena, a dedicatória soou "como uma missão". Desde então, ela e as filhas do casal, Djin e Sinai Sganzerla, empenham-se em produzir o longa, que Helena dirigirá.
Neste mês, elas conseguiram reunir o R$ 1,6 milhão do orçamento de filmagens, que estão previstas para ocorrer em fevereiro e março de 2009.

"Filme apocalíptico"
Ney avalia que Sganzerla escreveu "um filme apocalíptico", que "fala com muita clareza de todos os véus que caíram --sobre autoridade, governo, estrutura humana, social. Ele desmascara tudo".
Na trama, passados 30 anos desde que o Bandido apavorava a burguesia paulistana, invadindo suas casas, seduzindo suas mulheres e discursando sobre as tensões sociais, ele está preso e descobre ter um filho chamado Tudo ou Nada, papel que será de André Guerreiro.
Djin Sganzerla interpretará Jane (nome da personagem de Helena Ignez em "O Bandido da Luz Vermelha"), a principal namorada de Tudo ou Nada. O músico Arrigo Barnabé também foi convidado ao elenco, para o papel de um delegado.
Depois de aceitar ser Luz Vermelha, Ney reviu duas vezes "O Bandido da Luz Vermelha" (em DVD), para ver a atuação de Paulo Villaça (1946-1992) no papel-título. "No palco, sou também ator, mas um ator de mim mesmo", afirma. Para viver outros personagens, ele diz que se dispõe à direção dos cineastas. "Eu me coloco em branco, para que me digam tudo o que pretendem."
Quando, conversando sobre o papel de Luz Vermelha, ouviu de Helena Ignez um sintético "Quero você", Ney estremeceu. "Isso me deixou perturbado, porque não sei exatamente que 'eu' ela quer."
A diretora explica: "Quero o Ney completo. Nesse personagem, ele deve usar a persona que usa exclusivamente nos shows, porque Luz Vermelha na prisão é um personagem completamente mítico".
Helena diz que chegou a cogitar um convite a Daniel Filho. Mas, ao ver as entrevistas que Ney deu ao cineasta Joel Pizzini para o documentário em preparação "Olho Nu", deparou-se com "esse revolucionário Ney, um cara que escandalizou e trouxe admiradores com ele há mais de 30 anos, como um bandido". Na prisão, ele irá "cantarolar e assobiar os mesmos lindíssimos boleros que Paulo Villaça cantava no filme original", diz a diretora.
Amanhã, o Festival de Brasília sedia o lançamento da edição do roteiro de "O Bandido da Luz Vermelha" (Coleção Aplauso; Imprensa Oficial de SP), que marcou a estréia em longas de Sganzerla, aos 22 anos de idade.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ensaio Djin e André



Ensaio 25/02/2009

Com Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes.

O Bandido da Luz Vermelha (1968)

Ficção –35mm - 92 min – PB
Direção: Rogério Sganzerla.
Elenco: Paulo Villaça, Helena Ignez, Pagano Sobrinho, Luiz Linhares, Sérgio Mamberti, Sonia Braga, Lola Brah, Maurice Capovila, Renato Consorte, Neville de Almeida, Sérgio Hingst, Roberto Luna, Miriam Mehler, Ítala Nandi, Ezequiel Neves, Carlos Reichembach, Ozualdo Candeias, Maurício Segall, Renata Souza Dantas, Maria Carolina Whitaker e outros.

• Prêmio Melhor Filme - III Festival de Brasília (1968).
• Prêmio Melhor Direção - III Festival de Brasília (1968).
• Prêmio Melhor Montagem - III Festival de Brasília (1968).
• Prêmio Melhor Diálogo - III Festival de Brasília (1968).
• Prêmio Melhor Figurino – III Festival de Brasília (1968).
• Prêmio Melhor Atriz – III Festival de Brasília (1968).
• Prêmio Governador do Estado SP (categoria especial).
• Prêmio INC (Inst. Nacional do Cinema) e Roquette Pinto.
• Exibido na Weelington Film Society, Nova Zelândia – 2007.
• Auckland Film Society, Nova Zelândia - 2007
• 9º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, 2007
• 20º Festival Internacional de Cinema de Fribourg, Suíça, 2006.
• Barbican Center, Londres, 2006.
• 16° Festival Internacional de Bobigni, Paris, 2005.
• Tekfestival – Roma, 2005 - Rogério Sganzerla’s Homage.
• Mostra Cinema do Caos CCBB - Rio de Janeiro, 2005.
• Internacional Film Museum Festival, Áustria, 2005.
• 22°Festival de Cinema de Turim, 2004 – Tribute to Rogério Sganzerla.
• III Discovering Latin America Film Festival – Londres, 2004.
• Exibido no MoMa – Nova York, 1999.
•Festival de Cinema de Taormina , Itália, 1998

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Visita de locação - Parque da Luz



Com Helena Ignez, Ícaro Martins, Ney Matogrosso, Guilherme Marback e Sergio Silva.

14 de Fevereiro de 2009.

Manifesto de Rogério Sganzerla

1 – Meu filme é um far-west sobre o III Mundo. Isto é, fusão e mixagem de vários gêneros. Fiz um filme-soma; um far-west mas também musical, documentário, policial, comédia (ou chanchada?) e ficção científica. Do documentário, a sinceridade (Rossellini); do policial, a violência (Fuller); da comédia, o ritmo anárquico (Sennett, Keaton); do western, a simplificação brutal dos conflitos (Mann). 2 – O Bandido da Luz Vermelha persegue, ele, a polícia enquanto os tiras fazem reflexões metafísicas, meditando sobre a solidão e a incomunicabilidade. Quando um personagem não pode fazer nada, ele avacalha. 3 – Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime. 4 – Jean-Luc Godard me ensinou a filmar tudo pela metade do preço. 5 – Em Glauber Rocha conheci o cinema de guerrilha feito à base de planos gerais. 6 – Fuller foi quem me mostrou como desmontar o cinema tradicional através da montagem. 7 – Cineasta do excesso e do crime, José Mojica Marins me apontou a poesia furiosa dos atores do Brás, das cortinas e ruínas cafajestes e dos seus diálogos aparentemente banais. Mojica e o cinema japonês me ensinaram a saber ser livre e – ao mesmo tempo – acadêmico. 8 – O solitário Murnau me ensinou a amar o plano fixo acima de todos os travellings. 9 – É preciso descobrir o segredo do cinema de Luís poeta e agitador Buñuel, anjo exterminador. 10 – Nunca se esquecendo de Hitchcock, Eisenstein e Nicholas Ray. 11 – Porque o que eu queira mesmo era fazer um filme mágico e cafajeste cujos personagens fossem sublimes e boçais, onde a estupidez – acima de tudo – revelasse as leis secretas da alma e do corpo subdesenvolvido. Quis fazer um painel sobre a sociedade delirante, ameaçada por um criminoso solitário. Quis dar esse salto porque entendi que tinha que filmar o possível e o impossível num país subdesenvolvido. Meus personagens são, todos eles, inutilmente boçais – aliás como 80% do cinema brasileiro; desde a estupidez trágica do Corisco à bobagem de Boca de Ouro, passando por Zé do Caixão e pelos parias de Barravento. 12 – Estou filmando a vida do Bandido da Luz Vermelha como poderia estar contando os milagres de São João Batista, a juventude de Marx ou as aventuras de Chateaubriand. É um bom pretexto para refletir sobre o Brasil da década de 60. Nesse painel, a política e o crime identificam personagens do alto e do baixo mundo. 13 – Tive de fazer cinema fora da lei aqui em São Paulo porque quis dar um esforço total em direção ao filme brasileiro libertador, revolucionário também nas panorâmicas, na câmara fixa e nos cortes secos. O ponto de partida de nossos filmes deve ser a instabilidade do cinema – como também da nossa sociedade, da nossa estética, dos nossos amores e do nosso sono. Por isso, a câmara é indecisa; o som fugidio; os personagens medrosos. Nesse País tudo é possível e por isso o filme pode explodir a qualquer momento.

(Escrito em 1968, durante as filmagens de O Bandido da Luz Vermelha)

Diário de S. Paulo - 07.10.2008

por Fernando Oliveira

SÃO PAULO - Quando alguém se põe a pensar nos personagens mais célebres do cinema nacional é inevitável fugir de alguns nomes como Gabriela ou até mesmo o controverso Capitão Nascimento. No entanto, nenhum deles é tão emblemático quanto o personagem criado por Rogério Sganzerla em 1968 no clássico "O bandido da luz vermelha". Agora, quarenta anos após ter ganhado as telas, um dos longas mais conhecidos do país terá uma continuação, intitulada "Luz nas Trevas - A revolta de Luz Vermelha".

O roteiro foi escrito pelo próprio Sganzerla pouco antes de sua morte, há quatro anos.

- Foram mais de 700 páginas de trabalho que tivemos que transformar no roteiro atual - conta a viúva do cineasta, Helena Ignez, uma das musas do Cinema Novo.

A atriz, que já se aventurou atrás das câmeras em um curta e mais recentemente em "A canção de Baal", em cartaz no Festival do Rio, será a responsável pela direção do filme, ao lado de Ícaro Martins.

- Acho que é o melhor roteiro que Rogério escreveu.

A história se passa trinta anos depois do fim do primeiro filme. Ao contrário do que todo mundo pensava, o bandido não morreu eletrocutado e continua preso. Luz nas Trevas descobre que tem um filho, chamado Tudo ou Nada, e resolve encontrá-lo.

- Ele tem os mesmos trejeitos e vaidade do pai. O bandido velho vai encontrar a cópia dele com o mesmo humor, com gosto por coisas semelhantes, na forma de se vestir - conta Djin Sganzerla, filha de Rogério, produtora e atriz do filme. - Faço uma das namoradas do Tudo ou Nada. Coincidentemente, ela se chama Jane, mesmo nome da personagem de minha mãe em 1968.

O papel de Tudo ou Nada chegou a passar pelas mãos de Selton Mello, que por causa de outros compromissos teve que abrir mão do personagem. O escolhido então foi o experiente ator de teatro - e marido de Djin - André Guerreiro Lopes.

- Foi algo muito natural, temos uma parceria artística há muito tempo. Sem falar que o personagem é incrível, sofre de uma 'vaidade atômica' e rouba, sobretudo, por vaidade - brinca. - Sei da responsabilidade que é interpretar um personagem como esse, mas resolvi não entrar em parafuso.

Apesar de boa parte do elenco de "Luz nas Trevas - A revolta de Luz Vermelha" já ter sido definida, além de Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes, o longa contará com nomes como Maria Luísa Mendonça.

- O filme tem um elenco imenso e cheio de nuances. Não tem personagem sem importância, até os figurantes vão ter que saber atuar - diz Helena Ignez.

A diretora, no entanto, ainda tem um espaço em branco no papel de Luz nas Trevas, o bandido velho.

- Há duas possibilidades. Convidamos o Daniel Filho, mas ainda estamos acertando datas. E também há o nome de um músico, mas não posso falar muito sobre isso. Definirei isso nas próximas semanas.

As filmagens estão previstas para o começo do próximo ano e a estréia deve acontecer em 2010.

No filme de 1968, o papel coube ao falecido Paulo Villaça, que retomou toda a mítica que envolvia o personagem real que inspirou a história de ficção.

Na época, João Acácio Pereira da Costa havia sido preso depois de assassinar quatro pessoas sempre empunhando uma lanterna de luz vermelha. O criminoso, libertado em 1997 e falecido um ano depois, ainda respondia por tentativas de homicídio e 77 assaltos.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Rogério Sganzerla - Roteiro

(Joaçaba, 26 de novembro de 1946 — São Paulo, 9 de janeiro de 2004)

"Um dos mais expressivos expoentes do cinema independente brasileiro. Após apresentar seu primeiro curta-metragem 'Documentário' em Cannes, voltando para o Brasil, ele leu as chamadas dos jornais brasileiros sobre um certo 'bandido da luz vermelha' que estava aterrorizando São Paulo. Em 1968, seu primeiro longa-metragem 'O Bandido da Luz Vermelha' foi realizado, e logo foi considerado um dos clássicos do cinema nacional. (...) Alguns trabalhos não acabados ou não realizados que foram deixados pelo diretor estão seguindo seu caminho com a coordenação de Helena Ignez, mais significativamente o filme "Luz nas Trevas - A Revolta de Luz Vermelha."

(texto do catálogo do 20º Festival Internacional de Friburgo, de 2006)