terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Diário de S. Paulo - 07.10.2008

por Fernando Oliveira

SÃO PAULO - Quando alguém se põe a pensar nos personagens mais célebres do cinema nacional é inevitável fugir de alguns nomes como Gabriela ou até mesmo o controverso Capitão Nascimento. No entanto, nenhum deles é tão emblemático quanto o personagem criado por Rogério Sganzerla em 1968 no clássico "O bandido da luz vermelha". Agora, quarenta anos após ter ganhado as telas, um dos longas mais conhecidos do país terá uma continuação, intitulada "Luz nas Trevas - A revolta de Luz Vermelha".

O roteiro foi escrito pelo próprio Sganzerla pouco antes de sua morte, há quatro anos.

- Foram mais de 700 páginas de trabalho que tivemos que transformar no roteiro atual - conta a viúva do cineasta, Helena Ignez, uma das musas do Cinema Novo.

A atriz, que já se aventurou atrás das câmeras em um curta e mais recentemente em "A canção de Baal", em cartaz no Festival do Rio, será a responsável pela direção do filme, ao lado de Ícaro Martins.

- Acho que é o melhor roteiro que Rogério escreveu.

A história se passa trinta anos depois do fim do primeiro filme. Ao contrário do que todo mundo pensava, o bandido não morreu eletrocutado e continua preso. Luz nas Trevas descobre que tem um filho, chamado Tudo ou Nada, e resolve encontrá-lo.

- Ele tem os mesmos trejeitos e vaidade do pai. O bandido velho vai encontrar a cópia dele com o mesmo humor, com gosto por coisas semelhantes, na forma de se vestir - conta Djin Sganzerla, filha de Rogério, produtora e atriz do filme. - Faço uma das namoradas do Tudo ou Nada. Coincidentemente, ela se chama Jane, mesmo nome da personagem de minha mãe em 1968.

O papel de Tudo ou Nada chegou a passar pelas mãos de Selton Mello, que por causa de outros compromissos teve que abrir mão do personagem. O escolhido então foi o experiente ator de teatro - e marido de Djin - André Guerreiro Lopes.

- Foi algo muito natural, temos uma parceria artística há muito tempo. Sem falar que o personagem é incrível, sofre de uma 'vaidade atômica' e rouba, sobretudo, por vaidade - brinca. - Sei da responsabilidade que é interpretar um personagem como esse, mas resolvi não entrar em parafuso.

Apesar de boa parte do elenco de "Luz nas Trevas - A revolta de Luz Vermelha" já ter sido definida, além de Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes, o longa contará com nomes como Maria Luísa Mendonça.

- O filme tem um elenco imenso e cheio de nuances. Não tem personagem sem importância, até os figurantes vão ter que saber atuar - diz Helena Ignez.

A diretora, no entanto, ainda tem um espaço em branco no papel de Luz nas Trevas, o bandido velho.

- Há duas possibilidades. Convidamos o Daniel Filho, mas ainda estamos acertando datas. E também há o nome de um músico, mas não posso falar muito sobre isso. Definirei isso nas próximas semanas.

As filmagens estão previstas para o começo do próximo ano e a estréia deve acontecer em 2010.

No filme de 1968, o papel coube ao falecido Paulo Villaça, que retomou toda a mítica que envolvia o personagem real que inspirou a história de ficção.

Na época, João Acácio Pereira da Costa havia sido preso depois de assassinar quatro pessoas sempre empunhando uma lanterna de luz vermelha. O criminoso, libertado em 1997 e falecido um ano depois, ainda respondia por tentativas de homicídio e 77 assaltos.

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